Faço o gesto máximo de sentar na cama para escrever um poema
Colocar os fones
Ouvir Chet Baker
Alone Together
Pensar
Na miríade de almas que atravessam meu caminho e eu o delas
Trocando, misturando, marcando com a impressão de um sorriso
De uma presença
E uma proposta um convite um caminho novo
Nesse artístico Brasil imenso adentro
Da Mata Brava
E além dos meus conhecimentos parcos da música
Mais além do além do A
Quase chegando num Z
Num ômega recomeçante
Pois
São abundantes presentes
Dessa folha que se desenrola em vozes tecidas linhas torcidas planos
Contatos de superfície na densidade do que se cria multidimensional
Amigos e amigas
A marca do sentido que é em si, fugaz
Zaz, uma centelha, a fazer desfazer versos
como pontos de tricô
como renda tramada
e assim chegará inebriante a madrugada
coroada com o orvalho da manhã
fiada no colo do desejo
toda brilhante de pingos
perfumada de óleos e hormônios
e do soar de aves do paraíso
tão logo desponte a primeira luz desse novo dia
e eu lembrarei do meu espectral sonho insonoro de núvem
chegando em casa
após a caminhada
quando olhando para fora ouvi algo além do som
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